No
meio do meu caminho
tinha
um rio barrento
está
prestes a virar concreto
sem
cor, sem vida, sem água
um triste
rio de cimento
nele
há vestígios de gente
moradores
da vala comum
cruel
do esquecimento
uma
boneca sem olho, restos de casa demolida
uma
garrafa boiando sem esperança
crianças
ao redor do que já foi potável
besta
suspiro de vida
urubus
sobrevoam alegres a feira
um
misto de podridão e comida
frango
abatido, carcaça de boi,
escama
de peixe pelo chão caída
caminho
mais um pedaço
vejo
o mercadinho Fé em Deus
mas
não vejo nenhum regaço
será
mesmo que olha pelos seus?
um
rio-mar se abre diante de mim
enquanto
pescadores encantam
suas
redes para tear os peixes
sorte
navalhada no banzeiro,
ferida
talhada nos corpos destes
vou
em direção ao centro
a
imagem muda rapidamente
ruas
limpas, arborizadas
nem
lembra a dor daquela gente
que
engole sapo, e vive na merda
mas
comemora, de só agora
ter
o básico saneamento
Carola
Carola,
ResponderExcluirmargens de largas imagens desfilam no teu texto. restos mortais, incestos de lixo, líquidos umbrais, canais infectos. tua verve se afia mais e mais.
beijo,
r
Renato,
ResponderExcluirCrueza e beleza são bem mais do que sufixos idênticos. A raiz explica mais do que qualquer abstração que se queira ter.
Abração,
C.