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Mostrando postagens de outubro, 2013

O que o acaso decidir

"Nós somos feitos um pro outro Pode crer Por isso é que eu estou aqui E não há lógica que faça desandar O que o acaso decidir"* Família é uma coisa engraçada. Muita gente não compreende por que nasceu em uma ou deixou de nascer em outra. Posso fazer aqui mil elucubrações sobre a minha, mas não é o caso. Qualquer metáfora é gasta, como: um pilar, um porto seguro, uma base. É a felicidade da vida. E a infelicidade também. É um ninho que funde a nossa cabeça para o resto do caminho, uma negação, um novelo de maldizer e a causa para a falta de tato com o mundo. Muitas vezes não se sabe como agir com essa sociedade primeira, que tem todos os papéis: o ditador, o subserviente, o mediador, o revoltado contra o sistema, o empreendedor, o filho pródigo, o conselheiro. É muito difícil viver dentro dela, mas viver sem é muito pior. Nela, se consegue dar os primeiros passos, receber os primeiros ensinamentos, poder fraquejar diante das primeiras dores e receber o prim

Flor branca (ou fábula moderna)

Tenho poucos amigos, mas não tive como não me apaixonar por você, tão sozinha quanto eu. Minha voz nem saiu de tão emocionada que fiquei, veio uma coisa doída de dentro, era o meu choro sempre contido, como nós duas. Você, branquinha desse jeito, parece ter um chamariz entre as pétalas dizendo: vem, vamos conversar! Eu, como sou desconfiada, fiquei de longe. Só esperando você se arrepender, mas foste persistente, continuaste me chamando mesmo tendo um jardinzinho lindo ao teu redor. Só que você, dada a monólogo que nem eu, ficou calada. Aí, uma abelha ciumenta começou a nos rodear. E eu, que sou cheia das alergias, morri de medo, meu choro contido veio com muita força. E a dona chuva também se meteu na história, disse “Chega”, veio também nos aperrear. Aí, engoli o choro e voltei para o meu Manoel de Barros. Carola

Nossa Senhora de Nazaré

Foto de Camila Gaia Lá vem ela, lá vem ela meus olhos se inundam da água que eu não queria nunca quis não é fácil de explicar é estranho amar imagem é simbólico demais De repente, ela vem numa pororoca de corpos que se avoluma diante de mim ela na aura de flores emerge a pororoca se abre os corpos dançam em cardume uma piracema de lágrimas toma conta dos corpos os espíritos se alvoroçam até os que me seguem Lá vem ela, lá vem ela vejo o manto embaçando o brilho, a luz, um pedido o sorriso fortuito, ingênuo pelas graças alcançadas a dor dos pés calejados a força pra sempre caminhar Ela me afaga em seu colo um rio nasce em minha face meu corpo se aquece de amor que não se explica, só dá pra sentir arranca os galhos das minhas águas aí ela vai embora, apenas olho, mas volta ano que vem Às vezes esnobo a espera finjo que não é comigo mas meu rio vai até ela uma vez por ano, eu sei é simbólico demais Carol

Feminino à queima-roupa

Foto de Art Shay, Chicago, 1952 (modelo Simone de Beauvoir) "mete, mas passa manteiga" "enfia a faca, mas não cega" "tira o couro, mas com carinho" "fode comigo, mas não nega" chega de dizer que é pro meu bem não aceito ser amaciada batida feito bife pra ser comida quem nasce pra boi de piranha estufa o peito e aguenta o tranco não sente frio na barriga chega de lágrima de crocodilo meu pé já foi atolado  nessa merda  vem logo, aperta essa forca completa o serviço sujo antes que meu urro exploda vem com toda raiva vem com toda fúria não permita que eu fuja de novo tenta abater meu peito pra ver o que te espera não reza, não foge não desespera não cale minha boca agora sei falar  e brigar ataco à queima-roupa quer me bater?  Bate! mas bate com força Carola

Faces

onde nos encontramos na arte é nas dores do mundo devo saber tirar de mim as minhas dores as dores dos outros mas como tirar do espírito um dos cernes da poesia? não sei como fazer mas escuto isso o tempo inteiro Sensibilidade é o que nos enfraquece tu, virando lágrima eu, rochedo Carola e Lylian Cabral