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Mostrando postagens de maio, 2013

Oração

Pintura de Giuseppe Dangelico Riscaste em meu peito com o sangue dos teus olhos a mais feroz mágoa que teu ódio tem direito Vieste ao meu leito como homem que toma o que é seu e está feito. Dois corpos em soma. Eu, teu copo de vinho Sangue vivo, teu pão Ceia santa, um ninho Ódio nosso rolando ao chão Pele nossa sem desalinho Carnes sôfregas em oração. Carola

Corte transversal do poema

Ismael Nery - Retrato de Murilo Mendes, 1922 A música do espaço pára, a noite se divide em dois pedaços. Uma menina grande, morena, que andava na minha cabeça, fica com um braço de fora. Alguém anda a construir uma escada pros meus sonhos. Um anjo cinzento bate as asas em torno da lâmpada. Meu pensamento desloca uma perna, o ouvido esquerdo do céu não ouve a queixa dos namorados. Eu sou o olho dum marinheiro morto na Índia, um olho andando, com duas pernas. O sexo da vizinha espera a noite se dilatar, a força do homem. A outra metade da noite foge do mundo, empinando os seios. Só tenho o outro lado da energia, me dissolvem no tempo que virá, não me lembro mais quem sou. Murilo Mendes

Pra lembrar de viver

A sexta-feira é placebo Dado a nós pra não sabermos que a vida é usura Diário de muitos mitos Caminhada cheia de ritos Trilha diária de inúmeros erros Mas sabemos do eterno sofrer que o homem traz no peito Como ferro marcando a pele Tudo inverso, gasto, oposto do que se espera, falsas palavras violentas quimeras, imperfeito mundo, sem   ordem, hipérbato Grandes reviravoltas no viver Independente do placebo, Horário, forma, fama, trabalho Trago no fundo de meu dia No âmago do peito: um raio que me eletrifica e me acorda para que’u não roa essa corda como um rato adestrado, na maçante e bruta mais-valia de quem não vive,ama, grita, chora                             [e só tem medo E não se entrega ao enredo do fugidio, mas inefável dia a dia. Carola