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Mais um pouco de poesia marginal

Poeta e realidade (Didática)

A poesia é a lógica mais simples.
Isso que surpreende
aos que esperam ser um gato
drama maior que o meu sapato
aos que esperam ser o meu sapato
drama tanto mais duro que andar descalço
em modo calmo 
(Maior surpresa terão passado
aos que julgam que me engano:
ah não sabem quanto quero o sapato
não sabem quanto trago de humano
nesse desespero escasso
Não sabem mesmo o que falo
em teorema tão claro.
Como se cansariam ao me buscar os passos
pois tenho os pés soltos e ando aos saltos
e, se me alcançassem, como se chocariam ao saber que faço
a lógica da verdade pelos pontos falsos.)

VIII
Sou político
E nem sei o que possa dizer com isso
Mas é da época ser político
E há vários políticos
E cada um tem a sua verdade política
E a sua maneira política de ser político
E cada político tem o seu melhor mundo a oferecer
Sou político e também penso que talvez tenha um mundo
Mas nem por isso, talvez somente fantasie inútil
E acredite poder alterar esse inexorável rumo.

Fui tão político às vezes que desdenhei as formas
E contestei as normas
E confessei ridículas as pétalas de rosas
Fui tão político às vezes que fiz da beleza uma coisa perigosa
E tão político às vezes que tornou-se a noite pavorosa
Fui tão político às vezes que se desfizeram as minhas
mãos amorosas
E tão político às vezes que pensei entender a guerra
O chumbo e a pólvora
Fui tão político às vezes que despendi mil impossíveis horas
Dissolvendo em amnésia todas as memórias

As máquinas são políticas
As poéticas são políticas
As canções são políticas
Mas eu desconfio que alguma coisa possa deixar de ser
 
José Carlos Capinan

http://pt.scribd.com/doc/84683916/A-Poesia-e-a-Musica-de-JOSE-CARLOS-CAPINAN-Coletanea
http://tropicalia.com.br/ilumencarnados-seres/biografias/capinan
http://www.jornaldepoesia.jor.br/jcc.html
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/bahia/carpinan.html




ACM (Amor Classe Média)


Eu e minha mulher nos violentamos
diariamente nos batemos até sair sangue
vomitamos e cuspimos em nossos corpos
morremos aos poucos a cada dia
em cada ferida carne exposta
nas trepadas com hora marcada
sem sal nem tempero
gozamos como sonâmbulos
Andamos assim imersos
em nosso terrível pesadelo
mantendo as aparências
para que os vizinhos vejam nossa felicidade.


Antônio Carlos Lucena(Touchê)
Jujubas essenciais



Comentários

  1. Tenho aompanhado teu blog, tá? Só não comento muito para não cair nos clichês. Muito bom! Beijos, querida.

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