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HAROLDO MARANHÃO: MINICONTO INÉDITO




Foto de Haroldo Maranhão retirada do site www.releituras.com

Um pouco na esteira de publicar sobre Literatura de várias modalidades e gêneros, escritores que amo, livros, resenhas, projetos de leitura, vídeos, intertextos, conexões entre literatura e outras artes e Espasmos de toda ordem, trago como um brinde de início de ano um miniconto de Haroldo Maranhão. 


Este que é uma das referências de literatura na Amazônia, mas pouco conhecido em sua terra. Muito mais aclamado e estudado em outras regiões do Brasil, infelizmente. 


Ele foi jornalista de profissão, desde os 13 anos no jornal da família, o histórico Folha do Norte. Foi romancista, contista, cronista e prosador como poucos, com vasta bibliografia e prêmios pelo país. Teve as obras publicadas na Tchecoslováquia, Portugal, Estados Unidos, entre outros. Para os que não conhecem, uma parte da bibliografia: 

Romances
- A morte de Haroldo Maranhão  – 1981, GPM (Prêmio União Brasileira dos Escritores)

- O Tetraneto Del-Rei – 1982, Francisco Alves  (Prêmio Guimarães Rosa)
- Os Anões – 1983, Marco Zero (Prêmio José Lins do Rego)

- Memorial do Fim : a morte de Machado de Assis – 1984, Planeta
- Rio de Raivas – 1987, Francisco Alves

- Cabelos no Coração – 1990, Rio Fundo
- Querido Ivan – 1998, Jornal Pessoal 
Contos e Crônicas
- A estranha xícara, histórias curtas – 1968, Saga
- Chapéu de três bicos – 1975, Estrela
- Voo da Galinha: histórias de um minuto ou dois ou nem isso – 1978, Grafisa
- Flauta de Bambu – 1982, Mobral (Prêmio Nacional Mobral de Contos)
- As Peles Frias – 1983, Francisco Alves
- Jogos Infantis: variações sobre o mesmo tema  – 1986, Franciso Alves
- Senhores e Senhoras – 1989
- Feias, Quase Cabeludas (Org. Benedito Nunes) – 2005, Planeta
- Nariz Curvo
 Infantojuvenil
- Dicionarinho Maluco – 1984, Rocco
- O Começo da Cuca – 1985, Editora Nacional
- Quem Roubou o Bisão – 1986, Quinteto

- A Árvore é uma Vaca – 1986, Mercado Aberto
- A Porta Mágica – 1988, Scipione 
Novela
- Dicionário de Futebol – 1998, Record
- Miguel Miguel  – 1997, Cejup

E sem mais delongas, deliciem-se com o miniconto inédito:

COMO ACABARAM OS GENERAIS*

O último general acabou quando morreu o último alfaiate.


Houve uma, duas, três, quatro, cinco mil festas campais. As pessoas ocuparam as praças trazendo no coração e no rosto alegrias, risos, alegrias.


Claro, foi preciso matar os alfaiates. Todos. Sem alfaiates como poderiam os generais ter as fardas costuradas e bordadas? General só é general, de dólmã, quepe, arrogância e botas.


Perguntaram: "Mataremos os sapateiros também? Verdade, andaremos descalços. Mas preferível sangrarmos os pés do que haver sapateiros para talhar e coser as botas deles".


Sepultado o último alfaiate, sumiram os generais. Os coronéis. Majores. Capitães. Tenentes. Sargentos. Cabos. Soldados.


Festas alastraram-se de rua em rua, de cidade em cidade. O alívio tornou o país leve, calmo.


Pelo sim, pelo não, mataram-se todos os filhos e os filhos dos filhos dos alfaiates.



Haroldo Maranhão 




*Miniconto inédito extraído da Revista Lua Nova: 
revista de Cultura e Política
disponível no Scielo Brasil em : http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-64451989000200010

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