Pular para o conteúdo principal

Que caminhos deverias ter seguido até chegar à Alma?

Há quantas luas persistias em percorrer por este caminho obscuro e desconhecido? Pensavas que ias encontrar um pote de ouro, maravilha de toda ordem e um pouco de paz. 

Havia muito mais a descobrir do que estes olhos traziam a ti, passeavas pelo entremeio das palavras para tentar achá-la, mas os caminhos eram descaminhos.

Não havia beleza, vinhos ou castelos. Somente portas e mais portas não ultrapassadas, mistérios nem tão simples, desventuras. 

Força centrípeta eram, eterna quimera. O que se fazia regozijo outrora, hoje se desfaz na monotonia.

Como eram felizes naqueles dias em que estavam embriagados de fervor por toda a cidade sem porquê.

Eram muito mais do que corpos em baile na noite adversa, caminhavam como notas no uníssono da vida, pares ligados pela felicidade clandestina. 

Levaste-na ao teu ninho e lá mostravas o que eras de fato, pena que não dela.

Então, perdeste o sentido do percurso.

Caminhavas por outras estradas e a cada parada olhavas para trás na esperança de vê-la profundamente.

Ias a outras paradas e retornavas aflito a si por várias madrugadas como um desnorteado pela novidade.

Por muito pouco Alma não se fez tua morada, paravas nela inúmeras vezes em desespero por oásis, eras alimentado e partias novamente.

Alma se via solitária, mas substancial para outrem, seguiu várias vias também e se concretizou em outras almas.

Nela, não se viam mais as tuas marcas, com o tempo eras apenas memória devorada por doces traças. Contudo, ainda buscava-na pelo brilho. 

A distância paulatinamente os tornou estranhos como que ligados por um déjà-vu. Não eram mais os mesmos, o percurso seguia outro caminhar  e a cada horizonte avistavas-na como um farol que longe brilhava.

Ela, por fim, obstinada sentenciou: segue desbravando tuas veredas sem olhar para a claridade, os caminhos que aqui procuravas já não pertencem à tua rota.

Por fim, calaste sem resposta à última pergunta vinda de algum lugar: que caminhos deverias ter seguido até chegar à Alma?



Carola


Sugestão de música para ler o texto:



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Poetas Marginais e Geração Mimeógrafo

Estamos mais do que acostumados a ter acesso a livros e e-books que muitas vezes nem sequer passam pelo mercado editorial, mídia, crítica literária, universidade   ̶  isto é, espaços responsáveis pelo sucesso de público e sobre a inclusão da obra no cânone literário   ̶ ,   mas que se tornam fenômenos de leitura   e podem influenciar gerações futuras. Não, não estou falando de nenhum sucesso da web em blogs, sites, tumblr, fanzine virtual ou algo do gênero.  Estou falando dos poetas marginais e da Geração Mimeógrafo. Para você que acha que esses poetas vieram diretamente da cadeia, ou mimeógrafo é um bicho, uma doença ou um tipo de droga, explico.  Esses poetas começaram a produzir seus escritos a partir da década de 70 e se estenderam até 80 – alguns teóricos consideram apenas a década de 70, porém pela produção literária que até flertou com o movimento punk outros também consideram a segunda década –, ou seja, compreendidos nos ano...

Gerda: A PORTA DO CAOS

Estava com a vida num marasmo que não entendia. Tinha começado a passar por uma série de transformações que estavam doendo até aquele momento, mas tudo parecia calmo, demais até, pensava. A sensação louca que tinha era de estar na beira de uma praia vendo a mansidão do mar, mas seu coração tinha uma mania chata de antever e palpitar descompassado, o que pensava ser arritmia era uma intuição de arrancar paz, era de família sua avó dizia, “pajé bom é assim mesmo”, odiava àquelas frases da matriarca, mania de me assustar, eu hein.   Mas era assim, seu peito palpitava, sentia que ia morrer de falta de ar, seu corpo paralisava de olhos abertos, e tinha uma miração. Ia acontecer de novo. Viu uma onda do tamanho de um prédio vindo em sua direção prestes a quebrar na sua cabeça, seu corpo começou a somatizar e suou dois litros inteiros, a água escorreu debaixo de seus seios, a boca seca e o desequilíbrio a fez cair no chão. Que merda é essa, é crise de pânico só pode, a onda tá se aproxi...

Ficção de todo o dia VI

Deixa eu te contar essa. Uma vez eu pedi um Glória a Deus lá na reunião. Todo mundo calado. Eu pedi mais uma vez: eu quero ouvir bem alto, agora é pra falar com toda a fé que tem no peito, bora lá, Glória a Deus. Todo mundo calado.  Aí eu comecei a ficar puto.  Mas o senhor meu Deus sabe das coisas, mandou um mensageiro divino assim do meu lado e professei uma parábola que nem eu sabia.  Vocês conhecem Malaquias? Que era filho de Zacarias, irmão das três Marias e do Golias, filho de uma das tias, não sei qual, mas que era parente de terceiro grau de Jesus?  Fico todo arrepiadao só de falar. Pois bem, ele vinha andando pelas oliveiras sozinho, naquele caminho por onde passou Judas, vocês sabem a história, num silêncio quando de repente ouviu: por onde anda teus pensamentos Malaquias, filho de Zacarias, irmão das três Marias e do Golias, filho de uma das tias, não sei qual, mas que é parente de terceiro grau de Jesus, não sabes que sempre deves andar em oração...