Muitos de nós fomos educados para querer ser algo, somos impelidos a ter sonhos, almejar uma carreira de sucesso ou mesmo “ser alguma coisa na vida” – "tem que estudar para não puxar carroça", quem nunca ouviu isso dos pais? –, o fato é que sempre se deve escolher e tem que se decidir em uma única direção para o resto da vida. Sabemos que isso é impossível. A vida é feita de descaminhos. Estamos cerceados pelas verdades absolutas. Por mais que saibamos da relatividade do tempo, da inconstância da vida, da gravidade, da deterioração das nossas células e de toda a biologia envolvida nos nossos rotineiros discursos, e saibamos que as leis são absolutissimamente provisórias, não pensamos sobre o prazer das descobertas e não nos questionamos acerca da real importância da certeza. Sendo que a necessidade da certeza transforma um potencial feixe em angústia humana: a busca. Ora, mas por que iria querer a busca? O que ela traz de prazeroso para a vida das pessoas? O que ela tem de substancial para os caminhos ou descaminhos que porventura tenhamos que percorrer?
Como tinha dito anteriormente, essa necessidade de ter que ter uma direção, um caminho, um sonho ou mesmo uma ambição não deixa claro que temos muitas possibilidades e não temos que escolher exatamente uma, podemos sim escolher várias, abandonar uma e seguir para outra, depois retornar a esta ou mesmo para as duas. No fim das contas não há regras, há sim os descaminhos. O que não significa perda, inaptidão, incapacidade de adequação ou mesmo falta de perspectiva. Significa apenas a não obrigatoriedade de ter que querer uma só via.
E neste ínterim temos a descoberta, a capacidade de reconhecer um novo prazer, uma novidade que lhe cai às mãos, sem que se tenha buscado incessantemente por isso. Não somos acostumados a receber de bom grado os caminhos que não buscamos, porque – reitero – somos impelidos a “buscá-los por uma única e exclusiva via” e quando nos deparamos com esses, o que fazer? É muito mais prático só querer o que se conhece, do que receber o novo e tomá-lo para si. O que muitas vezes acontece é perdermos a chance de descobrir o tal do novo percurso, porque “o novo sempre vem”, já dizia àquele outro nietzschiano.
Diante da incompreensão do homem e de todas as suas idiossincrasias, da prisão castradora cristã em que muitos de nós fomos educados, é até aceitável que procuremos por certezas, mas não em demasia a ponto de nos fazer colapsar. A busca frenética por certezas nos faz covardes. Elas não existem, pois o que há são as suposições destas. Por não encontrá-las, faz com que infantilmente esperemos que “o cara lá de cima” nos dê tudo de mão beijada, sem maiores esforços. Sem riscos. E também nos faz espectadores, não no prazeroso olhar do voyeur ou mesmo no doce vislumbrar do flâneur, mas no patético se acomodar do homem médio. O incerto ao contrário nos faz mais atentos, mais abertos às descobertas, aos descaminhos, às novidades.
E para que não fiquemos bitolados na maçante e eterna busca por certezas e achemos que “tudo o que eu quiser o cara lá de cima vai me dar”, digo o avesso: ele não vai dar. Só posso afirmar – sem certeza – que se formos espertos, temos que tirar a bitola para descobrir o horizonte, ou melhor, para apenas encontrá-lo.
Carola Vívida
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