Poesia é uma droga muito consumida nos cursos de Letras. É de fácil acesso na Academia, há muitos professores que oferecem, ela deixa “os moleque muito doido”.
As meninas com óculos fundo de garrafa e cabelos desgrenhados se tornam alvo da cobiça dos lobos da literatura, ficam mais interessantes e a todo momento são convidadas para uma chamada de iniciação científica. E os meninos, pobres coitados, ficam com o peito inflado, corpo relaxado em lombra ininterrupta durante leituras de Baudelaire, engordam a peso de coxinha e refri na frente da universidade (moradia assumida) e vagam pelos corredores com camisas rasgadas de partido, mendigando bolsa de extensão, livros ou qualquer alucinógeno desse tipo.
Tudo culpa da poesia, substância que subverte o homem médio, ser humano que só queria comentar o BBB durante a aula de filosofia, ir de excursão a Fortaleza para curtir o ENEL, uma pena!! Não sabe ele que ao ser molestado por Fernando Pessoa, esquecerá a mediocridade e não será mais feliz quando for um professor de escola pública, terá todos os dias crise de identidade poética, qual Escola seguir?
No auge da dependência terá tremores durante os simpósios, apresentará muitos painéis e ficará desnorteado com as novidades nos congressos de literatura.
Terá crises de abstinência e buscará os clássicos. Como assim, você não quer o valor do aluguel nessa edição raríssima de Ilíada? Sabe quanto me endividei para consegui-la? Olha, roubei esse aqui da biblioteca, material de colecionador, hein? Capa dura, apresentação de Antônio Cândido...
Chegará ao fundo poço, já formado, no mercado de trabalho, um desiludido.
Cair em si será uma necessidade, por conta disso, irá chorar ao relembrar os saraus regados à cantina da serra e Maiakovski em qualquer birosca ou praça.
E por fim se lembrará daquele dia fatídico, quando um amigo ofereceu o pega, falou que ia dar barato e não experimentar é coisa de gente careta, não faz mal, só relaxa e dá uma sensação muito louca. Ah, que metáfora deliciosa, muito doida essa tessitura, imagem bem construída pelos verbos, liga das inferências, né cara?
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Queria não ser drogada.
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