Por que todo estudante de Letras sonha em ser escritor, faz o curso e deixa de escrever? Resposta rápida e rasteira: É preciso comer muito arroz com feijão, jabá, charque, buchada, rabada e jiló para escrever decentemente.
Escrever é algo doloroso e quem não sofre: ou já descobriu o elixir ou acha que sabe. Os pobres mortais que não têm um quinto da pureza, uma quarta dos nefelibatas, um quinhãozinho sequer de destreza se lasca, se rasga, se esfola para fazer um textículo (isso mesmo, não mexa no meu sarcasmo). Tenho provas diárias desse desespero causado pelas inofensivas letrinhas, orações injustiçadas, já furadas pelos eixos tão sintagmáticos e paradigmáticos. Uma língua de trapo, dizem alguns. Língua sem osso, falam outros. E coitado do Aurélio, sua cova já foi pisoteada. Houaiss morreu de desgosto. Quem é esse tal de Bechara? A Koch que não apareça na minha frente. Esse pessoal das Letras só vem perturbar a minha vida. Dá um tempo, já me falaram. Dane-se, a compreensão dos outros!! Deixa eu fazer o meu feijão com arroz em paz.
Bem, estes argumentos são válidos diante de uma pátria tão ingrata como a nossa, que só se lembra de seus rebentos de quatro em quatro anos. Quando os programas de educação são implementados e urrados aos quatro ventos, mas na hora das primeiras letras são esquecidos e desprezados para o infortúnio dos anos futuros, de sofrimento, cobrança e na maioria das vezes, de segregação no mercado "funiloso" (não mexa no meu neologismo não) de trabalho.
Com prós a torto e a direito, querendo velar os verdadeiros contra. Por isso, muitas pessoas de Letras em sã consciência param de tentar, poucas passam a ler e ruminar, para que duas ou três daqui a anos possam se sobressair. Os que não são de Letras, e sim, seres humanos normais, simplesmente não ligam. Muito coerente, penso eu. Por que escrever? Tenho coisa mais importante para fazer, não posso perder a minha novela, ela me disse. Acho que Ana Cláudia sempre teve razão.
Coroca Magno
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