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Chronos II

Às vezes não temos tempo de parar e viver as coisas, parece que a vida anda em um compasso que não conseguimos alcançar, movimento alucinado de carros, pessoas, buzinas, semáforos, elevadores, comida, escada, fast-food, cerveja, banhos, café, pó compacto, tanta coisa ao mesmo tempo, tanto tempo na mesma coisa, não sabemos nos situar, queria apenas contemplar aquele pôr do sol de ontem... Espaço atravessado por tarefas, tarefas englobadas de obrigações, estas engolidas pelo tempo.        

Coisas sendo ressignificadas a todo instante, na hora de parar e dormir o cérebro continua correndo, parece que nem dormimos, sinto-me no ontem, não consigo viver no hoje. O dia começa no estado de dormência e não há quem nos acorde do sonho, por vezes pesadelo diurno. Anestesia noturna.

A vida segue em slow, quadro a quadro, porém, inequivocamente veloz.

O ritmo desesperador nos faz cúmplices desse tal de Chronos. Ele insiste em correr à revelia. Enquanto nós, atordoados. Ora flâneur, ora algoz se apodera de nossa existência num sopro.

Em um breve espasmo do organismo vida. 

Carola

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