Pular para o conteúdo principal

Ficção de todo dia III

Quanto é que dá três? Num sabe fazer conta? Se soubesse não tava te perguntando... bora, quanto é? Passa logo menino, ei Lorraaaane, quantas vezes te falei que não é pra botar a mão aí, merda! Eu não botei a mão em lugar nenhum. Eu sou cega agora, é? Tô velha, mas não tô idiota, tira a mão daí, não vou repetir. Jucéliooooo, dou-te uma tapa, vem pra cá.

Dá oito e dez! Quê? Tô com cara de quem tá cagando dinheiro, né? Bora, minha senhora, eu quero passar, não tá vendo a fila que tá se formando aqui atrás? Já falei que não sou cega, aliás, falei que não era idiota... tanto faz, não sou nenhum das duas coisas e o que é que o senhor tem que se meter na minha vida? Já tenho que discutir com esse um que quer me roubar e aí vem o outro me importunar. Lorraaaaaaane, pequena, volta!

Sim, minha senhora, não vai passar? Tá todo mundo lhe esperando decidir se vai ou se fica. Quê? Se fica! O senhor não tem vergonha de chamar palavrão na frente dessas crianças? Esse mundo tá perdido mesmo, misericórdia. Mas eu não disse nada demais, a senhora que tá... Tá o quê? Lorraaaaaaane, vai tirar o teu irmão da porta, qualquer dia desses eu vou enlouquecer com esses dois, não tô pra isso não. Jucélio me ajuda aqui a morrer, merda!

Dá oito e dez. Toma logo isso daqui, eu hein. Esse pessoal anda muito estressado crianças. Lorraaaane, traz o Jucélio pra cá antes que eu quebre a cabeça dos dois, bora sentar lá pra trás que esse motorista não deve ter mãe pra correr desse jeito, credo...gente estressada... 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Poetas Marginais e Geração Mimeógrafo

Estamos mais do que acostumados a ter acesso a livros e e-books que muitas vezes nem sequer passam pelo mercado editorial, mídia, crítica literária, universidade   ̶  isto é, espaços responsáveis pelo sucesso de público e sobre a inclusão da obra no cânone literário   ̶ ,   mas que se tornam fenômenos de leitura   e podem influenciar gerações futuras. Não, não estou falando de nenhum sucesso da web em blogs, sites, tumblr, fanzine virtual ou algo do gênero.  Estou falando dos poetas marginais e da Geração Mimeógrafo. Para você que acha que esses poetas vieram diretamente da cadeia, ou mimeógrafo é um bicho, uma doença ou um tipo de droga, explico.  Esses poetas começaram a produzir seus escritos a partir da década de 70 e se estenderam até 80 – alguns teóricos consideram apenas a década de 70, porém pela produção literária que até flertou com o movimento punk outros também consideram a segunda década –, ou seja, compreendidos nos ano...

Gerda: A PORTA DO CAOS

Estava com a vida num marasmo que não entendia. Tinha começado a passar por uma série de transformações que estavam doendo até aquele momento, mas tudo parecia calmo, demais até, pensava. A sensação louca que tinha era de estar na beira de uma praia vendo a mansidão do mar, mas seu coração tinha uma mania chata de antever e palpitar descompassado, o que pensava ser arritmia era uma intuição de arrancar paz, era de família sua avó dizia, “pajé bom é assim mesmo”, odiava àquelas frases da matriarca, mania de me assustar, eu hein.   Mas era assim, seu peito palpitava, sentia que ia morrer de falta de ar, seu corpo paralisava de olhos abertos, e tinha uma miração. Ia acontecer de novo. Viu uma onda do tamanho de um prédio vindo em sua direção prestes a quebrar na sua cabeça, seu corpo começou a somatizar e suou dois litros inteiros, a água escorreu debaixo de seus seios, a boca seca e o desequilíbrio a fez cair no chão. Que merda é essa, é crise de pânico só pode, a onda tá se aproxi...

Rio

Eu, filha de rio Adentro O Rio De São Sebastião Gentileza, Selarón São Jorge e Zés Pilintras Parto e no centro encontro bordas No Rio transbordo                            o que me é profundo Nele, no seio, anseio estar no mundo como um rio inundo do que tenho de estranho entranho o belo, o imundo Rio em mim rios muitos Carola