Pular para o conteúdo principal

Um país chamado Jurunas

Muitos podem pensar que esta é uma mera tribo, de fato foi. Essa já é uma época passada, mais que um tempo, é o meu estado. Os moradores dessa tribo, que hoje já pode ser considerada Aldeia deixam uma pessoa anormal perplexa (imagine uma normal!) e digo o porquê. Os anormais pensam, dizem alguns, pois não têm nada melhor para fazer, já que cabeça fértil é terreno para o diabo, tento não sucumbir enquanto o Padre Gatinho, sucesso entre as beatas de plantão é escutado por todos no volume máximo.

Mas acho que o Diabo é um bom agricultor.

Toda a Odisseia começa ao acordar e não e preciso descer muito para chegar ao inferno, nesta história Dante não ia dar nem para o começo: a loucura começa ainda nos sonhos, quando o martelar do brega cutuca o inconsciente e quatro versos, nada mais que isso, te assustam e acordas sobressaltado. O mesmo verso repetido trezentas vezes não te deixa em paz, mas tudo pode piorar: quanto mais capcioso mais sucesso faz. Bocas de todas as idades e credos repetem ao modo zumbi, uns para usar de exemplo na hora da pregação e outros para cantar no cangote da sua moleca na frente de um automotivo sonoro junto das suas galeras.

Bom é ver uma criança que ainda balbucia dissílabos randomicamente cantando no colo da mãe, que repete tal música tão alucinada quanto. Mas nessa Aldeia, o brega é terreno de paz... por mais que alguns risquem facas e faces na disputa para ver quem tem o som mais, mais alto, a "música transforma" e todas as artes querem chegar a ser música, né Croce? E quem não tem som, caça com gato? Não! Contente-se em fazer o treme-treme e aguentar até que a festa, música e tudo acabe.

Aniquiladamente feliz no país chamado Jurunas. 


Carola

Comentários

  1. Tecitura prosáica afinada com o corpo da cidade. Parabéns pelo texto. Seu primeiro Seguidor, Rádio Web UFPA

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Poetas Marginais e Geração Mimeógrafo

Estamos mais do que acostumados a ter acesso a livros e e-books que muitas vezes nem sequer passam pelo mercado editorial, mídia, crítica literária, universidade   ̶  isto é, espaços responsáveis pelo sucesso de público e sobre a inclusão da obra no cânone literário   ̶ ,   mas que se tornam fenômenos de leitura   e podem influenciar gerações futuras. Não, não estou falando de nenhum sucesso da web em blogs, sites, tumblr, fanzine virtual ou algo do gênero.  Estou falando dos poetas marginais e da Geração Mimeógrafo. Para você que acha que esses poetas vieram diretamente da cadeia, ou mimeógrafo é um bicho, uma doença ou um tipo de droga, explico.  Esses poetas começaram a produzir seus escritos a partir da década de 70 e se estenderam até 80 – alguns teóricos consideram apenas a década de 70, porém pela produção literária que até flertou com o movimento punk outros também consideram a segunda década –, ou seja, compreendidos nos ano...

Gerda: A PORTA DO CAOS

Estava com a vida num marasmo que não entendia. Tinha começado a passar por uma série de transformações que estavam doendo até aquele momento, mas tudo parecia calmo, demais até, pensava. A sensação louca que tinha era de estar na beira de uma praia vendo a mansidão do mar, mas seu coração tinha uma mania chata de antever e palpitar descompassado, o que pensava ser arritmia era uma intuição de arrancar paz, era de família sua avó dizia, “pajé bom é assim mesmo”, odiava àquelas frases da matriarca, mania de me assustar, eu hein.   Mas era assim, seu peito palpitava, sentia que ia morrer de falta de ar, seu corpo paralisava de olhos abertos, e tinha uma miração. Ia acontecer de novo. Viu uma onda do tamanho de um prédio vindo em sua direção prestes a quebrar na sua cabeça, seu corpo começou a somatizar e suou dois litros inteiros, a água escorreu debaixo de seus seios, a boca seca e o desequilíbrio a fez cair no chão. Que merda é essa, é crise de pânico só pode, a onda tá se aproxi...

Rio

Eu, filha de rio Adentro O Rio De São Sebastião Gentileza, Selarón São Jorge e Zés Pilintras Parto e no centro encontro bordas No Rio transbordo                            o que me é profundo Nele, no seio, anseio estar no mundo como um rio inundo do que tenho de estranho entranho o belo, o imundo Rio em mim rios muitos Carola